Minha cidade menina...

O hino de Guaçuí mais parece uma poesia, flores e contemplação para uma cidade que parece ter sido desenhada. Ao Sul do Espírito Santo, cravada na Serra do Caparaó, o município tem cerca de 29 mil habitantes, parte da sua população está na zona rural dando conta das lavouras de café arábica, currais leiteiros, das plantações de flores e outras culturas típicas da agricultura familiar, marca registrada do Espírito Santo. Sua área central com praças, jardins, canteiros centrais, casarões antigos e ruas estreitas fazem o visitante voltar ao passado.

O município tem inúmeros atrativos naturais são pelo menos seis cachoeiras perto da área central, todas com muita acessibilidade para banho, ou mesmo, para o turismo de contemplação. Os apaixonados por pedal, gostam de explorar roteiros que incluam as cachoeiras e aproveitam para tirar belas fotos do visual das montanhas. Já aqueles que não resistem aos contos históricos, Guaçuí transparece as típicas cidades tradicionais produtoras de café, com uma rica mistura cultural que vai das danças a comida.

A HISTÓRIA DE GUAÇUÍ

Até poucos anos atrás, pensava-se que a história de Guaçuí e de seus municípios vizinhos teve início com a expedição bandeirante do então sargento-mor Manoel José Esteves de Lima. Um explorador português, que saiu da aldeia de Cordeiros, em Riba de Mouros, província do Minho, em Portugal, no ano de 1801 para receber uma herança deixada por parentes que moravam em Minas Gerais. Sua expedição passou pelo território do atual município de Guaçuí em 1820. Por todo o caminho, que ia até o atual município de Jerônimo Monteiro, Esteves de Lima foi deixando seus companheiros, com ordens para construir fazendas e prepararem locais para apoio dos viajantes que passassem pela recém redescoberta “Estrada do Itapemirim”, que ligava as cidades mineiras ao litoral da vila de Itapemirim, no sul da Capitania do Espírito Santo.

Mas na verdadeira história, Esteves de Lima, não foi o bravo desbravador que colonizou essas terras. Cinco anos antes, esteve por aqui o Alferes João do Monte da Fonseca. Em 1808 D. João, o príncipe regente em nome de sua mãe, a rainha Maria I, preocupado com os ataques dos índios botocudos às fazendas e colonos que se instalavam na fronteira das Capitanias de Minas Gerais e Espírito Santo, criou a Companhia de Civilização e Conquista dos Índios e Navegação do Rio Doce, dividida em seis áreas, tendo cada uma como comandante, um alferes. Esses tinham como objetivo executar qualquer índio que não aceitasse abandonar suas tradições e “ferocidade” (Segundo a Carta Régia de 13/05/1808) e também a se submeter a um período mínimo de 10 anos de serviço aos alferes e à coroa, o que não seria algo difícil, uma vez que entre os indígenas espíritossantenses, esses eram os mais violentos. Porém, eles habitavam uma faixa de terra que ia do rio Pardo (BA) ao rio Doce (MG e ES), com pouquíssimos indivíduos na região sul dessas duas capitanias. Além do soldo de alferes, os comandantes, recebiam uma recompensa por cada botocudo morto e aquele entre os seis que fizesse o melhor trabalho, ainda ganharia como prêmio, mais meio soldo.

É fato que, os índios botocudos foram por muito tempo, uma barreira para o crescimento de Minas Gerais e do Espírito Santo, mas por outro lado, os índios puris – “tupis”, que habitavam as terras ao sul do rio Doce, não eram tão selvagens e violentos, apesar de alguns escritores narrarem atos antropófagos que aterrorizavam os colonos brancos e também corte portuguesa.

A primeira expedição de João do Monte foi realizada em 1810, quando esse abriu uma estrada que ligava desde o “Descoberto de Arripiados” – área aurífera, através dos atuais municípios de Iúna, Irupi, Ibatiba e Muniz Freire até Castelo. Os objetivos eram alcançar as minas de Castelo e possibilitar o acesso à Vila de Vitória (ES). Este caminho ficou conhecido como “Estrada do Rubim”, mais tarde, “Estrada Pedro de Alcântara” (parte da atual BR-262), o qual influenciou antigo nome do município de Iúna, São Pedro de Alcântara do Rio Pardo. Esta gigante obra foi justificada pela necessidade de novas fontes de riquezas, uma vez que o ouro das Minas Gerais, já não era tão abundante como antes.

Cinco anos mais tarde, em 1815, o alferes João do Monte recebeu mais uma tarefa: abrir uma nova estrada, esta pelo extremo sul das capitanias, na divisa com o Rio de Janeiro. Sua missão era simples, ele deveria fazer as reparações em uma picada que já existia, porém há muito não era usada (embora não se sabe quem a abriu, estudos afirmam que tenham sido usadas por contrabandistas, para desvio de riquezas minerais).

Reproduzir vídeo

Em seu diário, o qual foi resumido mais tarde por Manoel José Pires da Silva Pontes (nono presidente da província do Espírito Santo e também membro do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil), João do Monte narra sua saída das proximidades de Ponte Nova, na época, parte de Mariana, descendo até São Miguel das Almas dos Arripiados, e depois para o Quartel do Glória, que seria a base de entrada na “Zona Proibida”. Há três dias de distância do Glória, encontraram os rios Carangola e Preto, próximo a então Serra dos Arripiados, também conhecida como Serra Negra (atual serra do Caparaó), na qual se fundou o Quartel do Rio Preto, em 6 de julho de 1815. Neste local, João do Monte deixou um soldado ferido com alguns índios sobre o comando de Manoel Jorge.

A história narra ainda que próximo ao Quartel do Rio Preto havia um povoado, o qual seria o Aldeamento Imperial de São Pedro de Rates – uma espécie de prisão semi-aberta de índios puris. Seguindo sempre as margens do rio Camapuam (atual Itabapoana) até perto da desembocadura do rio que João do Monte batizou de rio do Veado, em 16 de julho de 1815, apesar de não ter registrado o encontro com nenhum desses animais na região. A tropa desviou o caminho, subindo pelo rio Veado, até certo ponto que caminharam para leste, onde encontraram um afluente do Itapemirim, o rio Norte, por onde passaram pelo futuro município de Alegre, onde encontraram uma tropa espíritossantense que veio recebê-los.

Essa região (parte da Zona Proibida) apesar de ser de jure do Espírito Santo, não era e nem seria colonizada por essa capitania. A presença de soldados mineiros abrindo uma estrada que ligasse ambas as divisões administrativas (ES/MG) representava o início de um desenvolvimento, o qual a pequena e pobre capitania espíritossantense não poderia dar seguimento. As tropas mineiras instalariam quartéis militares, os quais eliminariam os “índios selvagens”. Eles fundaram próximo a Rive, o Quartel do Pombal e um pouco à frente da desembocadura do rio Castelo com o Itapemirim, na última cachoeira do rio, o Quartel do Castro, o último forte mineiro, a divisa de “facto” e posteriormente de “jure” entre as capitanias.

Essa região entre a Serra de Arripiados e o Quartel do Castro ficou sobre poder militar mineiro, mas, por pouco tempo sobre o comando de João do Monte da Fonseca, após “limpar” a área de índios – os quais foram registrados em seu diário como botocudos, ele foi até a Vila de Vitória, onde se encontrou com o Governador da Capitania e contou sobre sua expedição, em um ato que prova o contentamento ou pelo menos a despreocupação do Espírito Santo com os militares mineiros.

O diário do alferes foi sintetizado por volta do final da primeira metade do século XIX por Manoel José Pires da Silva Pontes, que foi o nono presidente da província do Espírito Santo (de 21 de abril de 1833 a 05 de abril de 1835) e membro do Instituto Histórico e Geográfico do BRASIL. Silva Pontes além de defender a colonização da região, entre os rios Preto e Norte (afluente do Itapemirim) pelos mineiros, ainda reconhecia o direito de Minas, sobre essas terras a qual se referia como Extrema Oriental, onde pouco tempo depois nasceu a Vila de São Bom Jesus do Livramento que viria a ser Guaçuí.

Em 1820 o governo de Minas Gerais deu ao Sargento-Mor Manoel José Esteves de Lima, o direito de explorar a nova estrada do Itapemirim, dessa forma o português vem para a Extrema Oriental com uma tropa composta de 72 homens, com poucos brancos, a maioria escravos e índios. Após fazer o reconhecimento até a confluência dos rios Castelo e Itapemirim (Duas Barras), o Sargento-mor volta distribuindo terras a seus subordinados, dando ordens para que esses fundassem fazendas e ranchos de apoio às tropas de viajantes que cruzassem a região, entre os beneficiários podemos destacar José Luiz da Silva Viana, cujas terras compreendiam a atual sede de Guaçuí. Esteves de Lima fundou uma fazenda a oeste do atual município e a chamou de Fazenda Santa Marta.

Sete anos após se estabelecer na Extrema Oriental, o Sargento-mor vai até a recém criada freguesia de São Miguel das Almas dos Arripiados (pertencente ao município de Viçosa), onde se encontrou com o Alferes João do Monte, para juntos determinarem os limites da nova freguesia com a província do Espírito Santo. Após uma breve análise, foi registrada na Paróquia dessa freguesia no dia 12 de outubro de 1827, que as terras de São Miguel iriam a leste, até o rio Norte (Muniz Freire-ES), São Miguel das Almas dos Arripiados. Hoje, cobriria os municípios de Iúna, Irupi, Ibatiba, Muniz Freire, Ibitirama, Divino de São Lourenço, Dores do Rio Preto, Guaçuí, Alegre, São José do Calçado, Bom Jesus, Apiacá e uma parte de Mimoso do Sul, possivelmente partes de Muqui e Jerônimo Monteiro.

De acordo com as pesquisas do IHGGES, existem documentos de 1838 onde já se mencionava a existência de um povoado chamado de São Bom Jesus do Livramento, onde hoje é a cidade de Guaçuí, fundado por Justino José Maria das Dores, que aqui chegou em 29 de setembro do ano mencionado, dia de São Miguel Arcanjo, santo adotado como padroeiro. Já na década de 1860 ganhou de Luís Francisco de Carvalho e do Comendador José de Aguiar Valim, uma capela em sua homenagem.

A primeira formação administrativa, foi a Sub-delegacia de Polícia de Veado, criada 1861, cobria desde o ribeirão do Castelo até o rio Preto, compreendendo as povoações de São Bom Jesus e São Pedro de Rates, só foi elevado a condição de freguesia (distrito) em 1866, quando seu território já pertencia ao município espíritossantense de Cachoeiro do Itapemirim. Em 1884 Alegre se emancipa de Cachoeiro, e o distrito de São Miguel do Veado (ex-São Bom Jesus do Livramento), passou para o mandato alegrense.

Foi nesse período que São Miguel do Veado começou a surgir no cenário cultural, econômico e social da região e do estado. O primeiro trem de passageiros da companhia britânica The Leopoldina Railway passou pela localidade em 1913, quatro anos depois assumiu a paróquia o lendário Padre italiano Miguel de Sanctís. Junto da ilustre Comendadora Jurema Moretz-shon, fundou em 1924 o Colégio São Geraldo, o maior e um dos primeiros do distrito.

A independência política aconteceu em 25 de dezembro de 1928, com o nome de município de Veado, sendo nomeado o primeiro 1º prefeito interventor, Suetónio Resende, que foi sucedido pelo prefeito eleito Dr. Manoel Monteiro Torres, no mesmo ano foi inaugurada a Matriz de São Miguel Arcanjo, devoção herdada do período da colonização e mandato de São Miguel dos Arripiados sobre essas terras.
Desde o século XIX, no dia de São Miguel (29 de setembro) se fazem festejos e solenes honras ao santo. Como o aniversário do município é exatamente o dia de Natal, onde se comemora o nascimento de Jesus de Nazaré, tornou-se impossível mobilizar esse povo de berço católico para comemorar uma festa política, portanto, passou-se a se comemorar a festa da cidade junto a do santo, tradição que permanece até os dias de hoje.

No ano seguinte, o município é instalado, recebe título de cidade e é nomeado o 1º delegado de polícia, o Sr. Wlademiro Azevedo de Carvalho. Nesta época aconteceu a separação de Guaçuí do município de Alegre. Guaçuí ficou como território definido por três distritos: a sede, São Tiago (Divino de São Lourenço) e Rio Preto.

Mudanças Toponímicas e Administrativas de Guaçuí
*Existem controvérsias sobre a data em que a Extrema Oriental tenha saído de Facto e Jure do Mandato mineiro para o espíritossantense. As datas mais prováveis ficam entre 1856 ou 1858.

Conheça tudo o que Guaçuí pode te oferecer. Confira no botões abaixo!

Minha cidade menina...

O hino de Guaçuí mais parece uma poesia, flores e contemplação para uma cidade que parece ter sido desenhada. Ao Sul do Espírito Santo, cravada na Serra do Caparaó, o município tem cerca de 29 mil habitantes, parte da sua população está na zona rural dando contas das lavouras de café arábica, aos currais leiteiros, as plantações de flores e outras culturas típicas da agricultura familiar, marca registrada do Espírito Santo. Sua área central com praças, jardins, canteiros centrais, casarões antigos e ruas estreitas fazem o visitante voltar ao passado.

O município tem inúmeros atrativos naturais são pelo menos seis cachoeiras perto da área central, todas com muita acessibilidade para banho, ou mesmo, para o turismo de contemplação. Os apaixonados por pedal, gostam de explorar roteiros que incluam as cachoeiras e aproveitam para tirar belas fotos do visual das montanhas.

A HISTÓRIA DE GUAÇUÍ

Até poucos anos atrás, pensava-se que a história de Guaçuí e de seus municípios vizinhos teve início com a expedição bandeirante do então sargento-mor Manoel José Esteves de Lima. Um explorador português, que saiu da aldeia de Cordeiros, em Riba de Mouros, província do Minho, em Portugal, no ano de 1801 para receber uma herança deixada por parentes que moravam em Minas Gerais. Sua expedição passou pelo território do atual município de Guaçuí em 1820. Por todo o caminho, que ia até o atual município de Jerônimo Monteiro, Esteves de Lima foi deixando seus companheiros, com ordens para construir fazendas e prepararem locais para apoio dos viajantes que passassem pela recém redescoberta “Estrada do Itapemirim”, que ligava as cidades mineiras ao litoral da vila de Itapemirim, no sul da Capitania do Espírito Santo.

Mas na verdadeira história, Esteves de Lima, não foi o bravo desbravador que colonizou essas terras. Cinco anos antes, esteve por aqui o Alferes João do Monte da Fonseca. Em 1808 D. João, o príncipe regente em nome de sua mãe, a rainha Maria I, preocupado com os ataques dos índios botocudos às fazendas e colonos que se instalavam na fronteira das Capitanias de Minas Gerais e Espírito Santo, criou a Companhia de Civilização e Conquista dos Índios e Navegação do Rio Doce, dividida em seis áreas, tendo cada uma como comandante, um alferes. Esses tinham como objetivo executar qualquer índio que não aceitasse abandonar suas tradições e “ferocidade” (Segundo a Carta Régia de 13/05/1808) e também a se submeter a um período mínimo de 10 anos de serviço aos alferes e à coroa, o que não seria algo difícil, uma vez que entre os indígenas espíritossantenses, esses eram os mais violentos. Porém, eles habitavam uma faixa de terra que ia do rio Pardo (BA) ao rio Doce (MG e ES), com pouquíssimos indivíduos na região sul dessas duas capitanias. Além do soldo de alferes, os comandantes, recebiam uma recompensa por cada botocudo morto e aquele entre os seis que fizesse o melhor trabalho, ainda ganharia como prêmio, mais meio soldo.

É fato que, os índios botocudos foram por muito tempo, uma barreira para o crescimento de Minas Gerais e do Espírito Santo, mas por outro lado, os índios puris – “tupis”, que habitavam as terras ao sul do rio Doce, não eram tão selvagens e violentos, apesar de alguns escritores narrarem atos antropófagos que aterrorizavam os colonos brancos e também corte portuguesa.

A primeira expedição de João do Monte foi realizada em 1810, quando esse abriu uma estrada que ligava desde o “Descoberto de Arripiados” – área aurífera, através dos atuais municípios de Iúna, Irupi, Ibatiba e Muniz Freire até Castelo. Os objetivos eram alcançar as minas de Castelo e possibilitar o acesso à Vila de Vitória (ES). Este caminho ficou conhecido como “Estrada do Rubim”, mais tarde, “Estrada Pedro de Alcântara” (parte da atual BR-262), o qual influenciou antigo nome do município de Iúna, São Pedro de Alcântara do Rio Pardo. Esta gigante obra foi justificada pela necessidade de novas fontes de riquezas, uma vez que o ouro das Minas Gerais, já não era tão abundante como antes.

Cinco anos mais tarde, em 1815, o alferes João do Monte recebeu mais uma tarefa: abrir uma nova estrada, esta pelo extremo sul das capitanias, na divisa com o Rio de Janeiro. Sua missão era simples, ele deveria fazer as reparações em uma picada que já existia, porém há muito não era usada (embora não se sabe quem a abriu, estudos afirmam que tenham sido usadas por contrabandistas, para desvio de riquezas minerais).

Reproduzir vídeo

Em seu diário, o qual foi resumido mais tarde por Manoel José Pires da Silva Pontes (nono presidente da província do Espírito Santo e também membro do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil), João do Monte narra sua saída das proximidades de Ponte Nova, na época, parte de Mariana, descendo até São Miguel das Almas dos Arripiados, e depois para o Quartel do Glória, que seria a base de entrada na “Zona Proibida”. Há três dias de distância do Glória, encontraram os rios Carangola e Preto, próximo a então Serra dos Arripiados, também conhecida como Serra Negra (atual serra do Caparaó), na qual se fundou o Quartel do Rio Preto, em 6 de julho de 1815. Neste local, João do Monte deixou um soldado ferido com alguns índios sobre o comando de Manoel Jorge.

A história narra ainda que próximo ao Quartel do Rio Preto havia um povoado, o qual seria o Aldeamento Imperial de São Pedro de Rates – uma espécie de prisão semi-aberta de índios puris. Seguindo sempre as margens do rio Camapuam (atual Itabapoana) até perto da desembocadura do rio que João do Monte batizou de rio do Veado, em 16 de julho de 1815, apesar de não ter registrado o encontro com nenhum desses animais na região. A tropa desviou o caminho, subindo pelo rio Veado, até certo ponto que caminharam para leste, onde encontraram um afluente do Itapemirim, o rio Norte, por onde passaram pelo futuro município de Alegre, onde encontraram uma tropa espíritossantense que veio recebê-los.

Essa região (parte da Zona Proibida) apesar de ser de jure do Espírito Santo, não era e nem seria colonizada por essa capitania. A presença de soldados mineiros abrindo uma estrada que ligasse ambas as divisões administrativas (ES/MG) representava o início de um desenvolvimento, o qual a pequena e pobre capitania espíritossantense não poderia dar seguimento. As tropas mineiras instalariam quartéis militares, os quais eliminariam os “índios selvagens”. Eles fundaram próximo a Rive, o Quartel do Pombal e um pouco à frente da desembocadura do rio Castelo com o Itapemirim, na última cachoeira do rio, o Quartel do Castro, o último forte mineiro, a divisa de “facto” e posteriormente de “jure” entre as capitanias.

Essa região entre a Serra de Arripiados e o Quartel do Castro ficou sobre poder militar mineiro, mas, por pouco tempo sobre o comando de João do Monte da Fonseca, após “limpar” a área de índios – os quais foram registrados em seu diário como botocudos, ele foi até a Vila de Vitória, onde se encontrou com o Governador da Capitania e contou sobre sua expedição, em um ato que prova o contentamento ou pelo menos a despreocupação do Espírito Santo com os militares mineiros.

O diário do alferes foi sintetizado por volta do final da primeira metade do século XIX por Manoel José Pires da Silva Pontes, que foi o nono presidente da província do Espírito Santo (de 21 de abril de 1833 a 05 de abril de 1835) e membro do Instituto Histórico e Geográfico do BRASIL. Silva Pontes além de defender a colonização da região, entre os rios Preto e Norte (afluente do Itapemirim) pelos mineiros, ainda reconhecia o direito de Minas, sobre essas terras a qual se referia como Extrema Oriental, onde pouco tempo depois nasceu a Vila de São Bom Jesus do Livramento que viria a ser Guaçuí.

Em 1820 o governo de Minas Gerais deu ao Sargento-Mor Manoel José Esteves de Lima, o direito de explorar a nova estrada do Itapemirim, dessa forma o português vem para a Extrema Oriental com uma tropa composta de 72 homens, com poucos brancos, a maioria escravos e índios. Após fazer o reconhecimento até a confluência dos rios Castelo e Itapemirim (Duas Barras), o Sargento-mor volta distribuindo terras a seus subordinados, dando ordens para que esses fundassem fazendas e ranchos de apoio às tropas de viajantes que cruzassem a região, entre os beneficiários podemos destacar José Luiz da Silva Viana, cujas terras compreendiam a atual sede de Guaçuí. Esteves de Lima fundou uma fazenda a oeste do atual município e a chamou de Fazenda Santa Marta.

Sete anos após se estabelecer na Extrema Oriental, o Sargento-mor vai até a recém criada freguesia de São Miguel das Almas dos Arripiados (pertencente ao município de Viçosa), onde se encontrou com o Alferes João do Monte, para juntos determinarem os limites da nova freguesia com a província do Espírito Santo. Após uma breve análise, foi registrada na Paróquia dessa freguesia no dia 12 de outubro de 1827, que as terras de São Miguel iriam a leste, até o rio Norte (Muniz Freire-ES), São Miguel das Almas dos Arripiados. Hoje, cobriria os municípios de Iúna, Irupi, Ibatiba, Muniz Freire, Ibitirama, Divino de São Lourenço, Dores do Rio Preto, Guaçuí, Alegre, São José do Calçado, Bom Jesus, Apiacá e uma parte de Mimoso do Sul, possivelmente partes de Muqui e Jerônimo Monteiro.

De acordo com as pesquisas do IHGGES, existem documentos de 1838 onde já se mencionava a existência de um povoado chamado de São Bom Jesus do Livramento, onde hoje é a cidade de Guaçuí, fundado por Justino José Maria das Dores, que aqui chegou em 29 de setembro do ano mencionado, dia de São Miguel Arcanjo, santo adotado como padroeiro. Já na década de 1860 ganhou de Luís Francisco de Carvalho e do Comendador José de Aguiar Valim, uma capela em sua homenagem.

A primeira formação administrativa, foi a Sub-delegacia de Polícia de Veado, criada 1861, cobria desde o ribeirão do Castelo até o rio Preto, compreendendo as povoações de São Bom Jesus e São Pedro de Rates, só foi elevado a condição de freguesia (distrito) em 1866, quando seu território já pertencia ao município espíritossantense de Cachoeiro do Itapemirim. Em 1884 Alegre se emancipa de Cachoeiro, e o distrito de São Miguel do Veado (ex-São Bom Jesus do Livramento), passou para o mandato alegrense.

Foi nesse período que São Miguel do Veado começou a surgir no cenário cultural, econômico e social da região e do estado. O primeiro trem de passageiros da companhia britânica The Leopoldina Railway passou pela localidade em 1913, quatro anos depois assumiu a paróquia o lendário Padre italiano Miguel de Sanctís. Junto da ilustre Comendadora Jurema Moretz-shon, fundou em 1924 o Colégio São Geraldo, o maior e um dos primeiros do distrito.

A independência política aconteceu em 25 de dezembro de 1928, com o nome de município de Veado, sendo nomeado o primeiro 1º prefeito interventor, Suetónio Resende, que foi sucedido pelo prefeito eleito Dr. Manoel Monteiro Torres, no mesmo ano foi inaugurada a Matriz de São Miguel Arcanjo, devoção herdada do período da colonização e mandato de São Miguel dos Arripiados sobre essas terras.
Desde o século XIX, no dia de São Miguel (29 de setembro) se fazem festejos e solenes honras ao santo. Como o aniversário do município é exatamente o dia de Natal, onde se comemora o nascimento de Jesus de Nazaré, tornou-se impossível mobilizar esse povo de berço católico para comemorar uma festa política, portanto, passou-se a se comemorar a festa da cidade junto a do santo, tradição que permanece até os dias de hoje.

No ano seguinte, o município é instalado, recebe título de cidade e é nomeado o 1º delegado de polícia, o Sr. Wlademiro Azevedo de Carvalho. Nesta época aconteceu a separação de Guaçuí do município de Alegre. Guaçuí ficou como território definido por três distritos: a sede, São Tiago (Divino de São Lourenço) e Rio Preto.

Mudanças Toponímicas e Administrativas de Guaçuí
*Existem controvérsias sobre a data em que a Extrema Oriental tenha saído de Facto e Jure do Mandato mineiro para o espíritossantense. As datas mais prováveis ficam entre 1856 ou 1858.

Conheça tudo o que Guaçuí pode te oferecer. Confira no botões abaixo!